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Pacientes com fibrilação atrial (FA) paroxística sintomática costumam, pelo desconforto e preocupação, procurar rapidamente um serviço de emergência. Já no pronto-socorro, a tentativa de cardioversão química ou elétrica imediata costuma ser a regra. Como se sabe, neste cenário, a maioria das FA tendem a reverter espontaneamente nas primeiras 48 h. Desta forma, seria de fato necessário cardioverter imediatamente esta população de pacientes?
Para tentar responder essa questão 437 pacientes com FA de início recente (< 36 h), sintomáticos, mas estáveis hemodinamicamente, de 15 hospitais holandeses foram randomizados para uma de duas estratégias – 1. Cardioversão precoce, preferivelmente química com flecainida, ou elétrica (CVE) quando havia insucesso ou contraindicação ao fármaco. 2. Cardioversão tardia (wait-and-see). Nesta abordagem o paciente era submetido a controle de frequência com betabloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio ou digoxina. Quando havia melhora dos sintomas e FC ≤ 110 bpm ele recebia alta. No dia seguinte, uma visita hospitalar era programada o mais próximo possível das 48 h do início dos sintomas. Nesta consulta, o paciente realizava um ECG e se ainda estivesse em FA era encaminhado ao serviço de emergência para cardioversão tardia.
O desfecho principal do estudo foi avaliar a presença de ritmo sinusal após 4 semanas. Em pacientes com alto risco de acidente vascular cerebral que não vinham em uso de anticoagulação, essa era iniciada antes ou imediatamente após a cardioversão. Ecocardiograma transesofágico não foi realizado em nenhum paciente. Veja os resultados na tabela abaixo:
A conclusão dos autores foi que a estratégia de cardioversão tardia (wait-and-see) foi não inferior à cardioversão precoce, no que se refere ao achado de ritmo sinusal em 4 semanas.
Comentário: a flecainida, um antiarrítmico da classe IC de Vaughan Williams, não é disponível no Brasil, portanto a opção em nosso país seria a propafenona.
Referência:
- N Engl J Med. 2019 Mar 18. doi: 10.1056/NEJMoa1900353.